Escolho e ponho para tocar a música que melhor condiz com o meu vazio interior.
Vazio não: ressaca. Essa é a palavra certa.
Deixo o suave piano tocar, ressoando por todo o ambiente.
Seus melancólicos acordes levam-me ao alto mar, em meio à noite, sem terra à vista. Fico cercado pelas águas que refletem o negro do céu.
Águas de um oceano que avançou demais, e agora retrai.
Olhando o mar, percebo que o dinamismo das ondas é quem dita o rumo, incerto e aleatório. Com a música lenta, podemos divagar, ficar ao relento observando o movimento das ondas, para lá e para cá. Observando-as ser o que sempre serão: constantes, e, ao mesmo tempo, variáveis.
Fico ao relento porque não vejo rumo algum, não vejo terra para subir e prosseguir. Decidi parar um pouco de remar, e enfim, descansar, só para ter a oportunidade de ver a vida passar nas ondas de um alto mar.
Como as ondas são as oportunidades, são as situações. Tanto na duração, como na intensidade.
Começam, atingem seu auge, seu clímax, e acabam.
E assim, também, é a vida.
Breve e única, como uma onda no mar.
Mas não nos damos conta disso. Só quando é tarde demais.
Então, sem percerbermos, surge outra onda, indo para outra direção, substituindo aquela que já não mais existe, levando consigo a água que muitos mares já percorreu.
Para mim, que metaforizo toda a vida ao meu redor, isso é simples e soberbo. Parar por alguns instantes e deixar a vida passar constitui um sensação única.
Se chegarei a algum lugar, não sei.
Não tenho instrumentos de navegação.
Só tenho a certeza de que não existo para ficar à deriva, ao relento.
E, na última das instâncias realistas, é isso o que me faz prosseguir.
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